Bordado da juventude
O bordado como conhecemos, o ponto cruz a exemplo, surgiu na pré-história, como técnica utilizada para a costura das vestes da época. Isso significa, que o bordado é uma técnica tão antiga quanto a própria existência humana.
De lá pra cá, muitas e muitas gerações se passaram tendo o bordado como representação feminina. Quantas mulheres aprenderam a bordar com as avós, mães e tias e repassaram essa prática geração após geração, não é mesmo? E por um longo tempo, foi essa a identidade da mulher ideal: sentada na sala de sua casa, com seus bastidores, linhas e agulhas, bordando enxovais e paisagens durante o dia, enquanto esperava o provedor.
Hoje, o que era uma convenção, tornou-se diversão e trabalho para essas mulheres, que enquanto praticam o bordado, discutem de assuntos mais polêmicos até conversas que aliviam o estresse do dia a dia. O resultado são trabalhos cheios de personalidade e doçura, representam aquilo o que elas pensam e o que são.
Para as adeptas da prática, o bordado é hoje, uma forma de expressão dos temas atuais.
Em São Paulo, um grupo formado por professora, ex-alunas e amigas que simpatizam com técnicas manuais em geral (bordado e tricô basicamente), se encontram periodicamente, para passarem algumas horas juntas, desenvolvendo seus trabalhos e enquanto conversam sobre os seus aprendizados e a vida.
Tratam-se de mulheres bem resolvidas, modernas, que trabalham, criam seus filhos ou estão construindo uma família, e pensam no bordado como uma forma de terapia. Ou mesmo, para mudarem totalmente o rumo de suas carreiras. Como é o caso de Camila Belotti , designer gráfica de 31, proprietária da Belô Bordados & Ilustração.
“Sempre tive contato com bordado, através da minha nonna e também em algumas referências de ilustradores e artistas. Mas comecei de fato a bordar, há pouco mais de um ano. Estava em uma fase difícil, de mudanças profissionais e, então, comecei a ter algumas aulas na Novelaria. Além de terapia, acabei descobrindo no bordado uma nova forma de ilustrar, um possível novo caminho. É uma técnica tão antiga, mas que te dá tanta liberdade, tantas opções, que não tem como não se apaixonar” conta a bordadeira.
A tradição do bordado é mantida por jovens que ama arte e procuram através disso aliviar as tensões do dia a dia.
No final das contas, o que esse novo nicho de bordadeiras faz enquanto se reúne, não é muito diferente do que era antigamente. O que muda realmente é a opção que cada uma teve e em como fazer bordados a mão transformou cada uma delas e suas reflexões e pautas sobre o mundo atual. Temas como feminismo, machismo, liberdade, sexualidade e padrão de beleza são colocados em debate, e na maioria das vezes representados em seus trabalhos.
“Meus trabalhos tem dois lados, mas ambos, expressam sentimentos e meus gostos. Eles acompanham muito o que penso e como estou me sentindo e, sempre tento inserir algum elemento mais de moda, por exemplo. Exploro muito a figura feminina, o universo feminino e, muitas vezes, trata-se de como estou me sentindo naquele momento, como mulher”, explica Camila a respeito do seu trabalho.
E o movimento do bordado no Brasil só aumenta. Com muita frequência os encontros acontecem em locais públicos para ganhar mais simpatizantes. O Clube do Bordado , de tempos em tempos, organiza encontros no Ibirapuera, em São Paulo. Vale ficar de olho na agenda. Há ainda, aulas gratuitas e eventos só de bordados, no SESC, temáticos e bem legais para quem quer ver o que se tem feito por aí. Fique de olho!
Mas a dica valiosa mesmo, é aplaudir e apreciar esse trabalho manual que está sendo preservado pelas boas mãos de mulheres que, literalmente, pintam, bordam e expressam seus sentimentos por meio de uma das mais antigas e belas formas de artesanato do mundo, o bordado.
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