Home / Notícias / Série Brasileiras que Fizeram História: Maria da Penha (1945)
Maria da Penha Maia Fernandes, passou a infância em Fortaleza, no Ceará. Sua família, de classe média, lhe deu uma educação rígida. Ela estudou em colégio de freira, apenas com meninas na sala de aula, como era comum no período.
Por incentivo de sua avó, que era parteira, Penha decidiu cursar Farmácia na Universidade Federal do Ceará.
No segundo ano da faculdade, se apaixonou por um rapaz em uma festa. Algum tempo depois se casou, aos 19 anos, sob a condição de que terminaria os estudos. No entanto, o homem era muito ciumento, e o relacionamento acabou não dando certo.
Após a separação, Penha iniciou uma pós-graduação em São Paulo. Foi na capital paulista que, por meio de amigos em comum, ela conheceu seu futuro marido, Marco Antonio, colombiano. “Ele era uma pessoa cabeça no lugar, solícito e prestativo, e eu achei que estava acertando na loteria. A gente começou como amigos, namoramos e casamos um ano depois”, conta.
O casamento de Maria da Penha e Marco Antonio, que se naturalizou brasileiro, seguiu bem até o nascimento das três filhas. Desde então, ele passou a ter um comportamento agressivo com ela e as crianças.
E a situação só piorou. Para a farmacêutica, era um sofrimento muito grande conviver com um homem que agredia fisicamente suas filhas e a fazia sofrer uma extrema violência psicológica. A ela, só restava se esquivar na tentativa de proteger as meninas.
“Percebi que a única saída era uma separação, mas que partisse dele. Eu não podia interferir pelos exemplos que via na mídia: as mulheres que tentavam interromper o relacionamento eram assassinadas pelos companheiros”, relata.
Na madrugada de 29 de maio de 1983, Maria da Penha foi acordada com um estouro no quarto. Assustada, tentou se mexer, mas não conseguia. Ela havia levado um tiro. Seu primeiro pensamento naquele momento foi: “O Marco [seu então marido] me matou”.
O homem foi encontrado pelos vizinhos sentado no chão da cozinha da residência, com o pijama rasgado e uma corda no pescoço. Ele criou uma versão falsa da história: afirmou que quatro assaltantes entraram na residência e tentaram enforcá-lo.
A vítima, à época com 38 anos, acreditou por algum tempo no suposto assalto, até o dia em que as incoerências de Marco Antonio, vieram à tona nas investigações. Antes disso, Penha permaneceu quatro meses entre a vida e a morte.
Neste período, a mulher passou por cirurgias em hospitais de Fortaleza, onde nasceu, e, depois, de Brasília. “Pensei que fosse morrer”, relata. Ela só pedia a Deus, todos os dias, para que não deixasse suas filhas – então com 6 anos, 5 anos e 1 ano e 8 meses – órfãs de mãe. As crianças ficaram todo esse tempo com o pai, a babá e a governanta da residência.
Foram meses de resistência para sobreviver à tentativa de assassinato. Após vários exames, ela recebeu uma notícia que mudaria sua vida: não conseguiria mais andar.
Logo que retornou para casa, de cadeira de rodas, Maria da Penha viveu outra violência. Marco tentou eletrocutá-la no chuveiro elétrico, mas a vítima conseguiu se salvar a tempo. Mesmo assim, ainda não tinha noção de que vivia ao lado de um assassino.
Com o interrogatório da Secretaria de Segurança, várias contradições foram encontradas, e as autoridades concluíram que o economista era o autor da tentativa de homicídio. Ele não confessou o crime.
No total, foram 19 anos e 6 meses para colocar Marco na cadeia. Um processo longo e de muita luta, que serviu de exemplo e força a outras mulheres a partir da promulgação da Lei Maria da Penha, em 2006, que pune a violência doméstica no Brasil.
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